A corrente dominante na paleontologia americana defende, ou defendia at agora, a “datao Clvis”, pela qual os primeiros humanos chegaram Amrica da Sibria h cerca de 11.000 anos. O stio de Clvis, como os centros cientficos que o defendem, fica nos Estados Unidos. O questionamento dessa datao, em conseqncia de descobertas brasileiras, implicou desde a mobilizao de velhas acusaes de imperialismo cultural (do lado sul-americano) e de insuficincia acadmica (do norte-americano), at questes tnico-poltico-culturais. Pois a “datao Clvis” significa que a colonizao do continente se deu exclusivamente por povos asiticos vindos por terra, enquanto as pesquisas brasileiras desenham outro quadro: 1) a ocupao americana anterior a Clvis; 2) ela se iniciou com povos de provvel origem polinsia, vindos do Pacfico, depois desalojados pelos siberianos. Ou seja, as pesquisas brasileiras no deixam pedra sobre pedra da teoria central da paleontologia norte-americana. 1p6n44

A cincia est hoje no centro dos debates. De um lado, a fiadora de grandes faanhas, do Hubble engenharia gentica. De outro, alvo de duros ataques, que unem religiosos, ambientalistas e multiculturalistas. Dessa ambigidade no escapa a paleontologia (mas escapa o livro, ao defender de forma firme a robustez do darwinismo). Entre outros motivos, porque a histria escrita pela cincia distinta da contada pelos mitos. E hoje politicamente incorreto contestar os mitos de outras culturas. Se os amerndios dizem que seus povos foram criados pelos deuses nos locais em que vivem, afirmar descenderem de asiticos que cruzaram Behring na ltima Era Glacial ou, talvez pior, de polinsios que cruzaram o oceano, uma forma de desrespeito – ainda que involuntrio – ao mito tribal (como no caso do “Homem de Kennewick”, descrito no livro). Se no bastasse, h os prprios embates intracientficos.